Quando se fala em arte como uma arma de denúncia da barbárie humana, lembro logo de Guernica. Esse grande painel que mede 350 por 782cm, foi pintado por Pablo Picasso na ocasião da Exposição Internacional de Paris em 1937. Sendo exposto no pavilhão espanhol.
Enfim, para entender o painel é necessário saber o que aconteceu na tarde daquele fatídico 26 de abril de 1937. Era dia de feira na pequena cidade Basca de Guernica, quando no cair da tarde os sinos começaram a badalar, alertando a população para o perigo que se aproximava. Eram os aviões nazistas da Legião Condor em apoio às forças nacionalistas do general Francisco Franco. A sangrenta guerra civil (1936 - 1939) que dividiu a Espanha entre republicanos (apoiadas por anarquistas, comunistas, socialistas e republicanos anti-fascistas) e nacionalistas (apoiados pelos militares franquistas, a Itália fascista e a Alemanha nazista), havia enfim alcançado esse pequeno povoado. Sem qualquer resistência, os Junkers e Heinkel alemães, davam vôos rasantes descarregando milhares de bombas incendiárias pela cidade, e metralhando aqueles que em pânico tentavam escapar. Guernica tinha por volta de 7 mil habitantes e, embora os números não sejam precisos, se calcula que o ataque alemão tenha seifado 1654 vidas, e deixou algo em torno de 889 feridos. Esse foi o primeiro ataque aéreo da história contra populações civis.
Hitler declarou a 29 de abril daquele mesmo ano:
-Todos vocês sabem que na Espanha nós não nos situamos como meros observadores desinteressados...
Foi assim que Picasso inspirado por esse evento, pintou um cenário de caos e barbárie. Com homens, mulheres, crianças e animais multilados e gritando de horror. Não por acaso, o painel do famoso espanhol se tornou um símbolo da luta pela vida e pela paz.
Conta-se que, quando da exposição em Paris, ao ver a painel, um oficial alemão teria perguntado à Picasso se havia sido ele o autor da obra; no que este respondeu: "Não, foram vocês!"
Com a vitória de Franco, em 1939, Picasso prometeu não pisar mais em solo espanhol enquanto o generalíssimo estivesse no poder, e proibiu que Guernica fosse exposta por lá. Porém, quando da morte do tirano em 1975, a obra finalmente pôde voltar para Madrid onde até hoje se encontra.
um prelúdio
Um grupo de 20 pilotos da Legião Condor teria se recusado a jogar bombas sobre populações civis durante a Guerra Civil Espanhola. Estes então, se entregaram ao seu superior, e por ordens de Himmler, que os chamou de "os covardes da Legião Condor", acabaram sendo usados como cobaias para um novo experimento nazista, as câmaras de gás.
Guernica é constrangedora
Uma obra de arte como Guernica é capaz de produzir ecos por muitas gerações. Tanto o é, que há uma cópia da pintura de Picasso logo à entrada do prédio das Nações Unidas em Nova York. Acontece que em 2003, a mesma acabou sendo coberta por uma cortina azul. Tal atitude gerou polêmica, pois é bem à frente dessa obra que os diplomatas costumam fazer suas declarações à imprensa. A explicação foi que, não seria apropriado que o embaixador dos Estados Unidos na ONU, John Negroponte, ou Collin Powell, falassem a respeito de sua guerra criminosa contra o Iraque, tendo como fundo, Guernica.
Abraços!!