quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Honduras, Arnaldo Jabor e o debate político brasileiro

O jogo político é algo no mínimo intrigante, todos falam em nome da ética, da honestidade e em defesa da democracia. Mas o que não se diz (e isso vale mesmo para os realmente honestos), é que antes de tudo isso, estão as convicções políticas, quais os ideais que norteiam certo político, por que estar nesse partido e não no outro, livre mercado ou um estado protecionista e por aí vai.
Enfim, nada mais normal. Daí temos a oposição de ideias tão saudável e natural num sistema democrático, embora sempre espinhoso. Mas como dito lá em cima, todos querem parecer os arautos da democracia, quando na verdade de forma sutil ou não, muitos desses (e não me refiro à totalidade, claro) em dadas situações, acabam traindo aquilo que dizem zelar, ao defender, ou ao menos não condenar (pelo menos, com o mesmo vigor que usariam para condenar o que lhes é ideologicamente oposto), ataques gritantes a democracia. Aí impera a política do dois pesos e duas medidas. A análise política nesses casos, passa a ser um ato quase de subjetividade, onde cada um vê o que quer, interpretando os fatos como melhor lhe convém. A questão é que não podemos a partir disso, justificar ou ignorar injustiças, somente porque "fulaninho" não me é agradável.
A introdução um tanto longa, serve para dar conta de uma prática comum e tendenciosa de políticos e da imprensa nacional - exemplificado aqui, na palavra e na figura de Arnaldo Jabor. Ontem, assistindo ao Jornal da Globo, fiquei impressionado (como se isso ainda fosse possível) com a sua desfaçatez e seu discurso hipócrita no que diz respeito ao golpe em Honduras. Tendencioso e escorregadio, quase beirando ao inacreditável, ele começou sua fala alegando ser antes de tudo contrário ao golpe. Porém, logo em seguida começou um discurso em que dizia que o golpe em Honduras, não foi aquele típico golpe latino americano do tipo, "porrada e fuzis" (as últimas notícias o desmentem); foi antes de tudo, em suas palavras, uma espécie de “golpe brando”, com a chancela da Suprema Corte, de parte do congresso e da Igreja (o que segundo o mesmo, daria alguma aura de legitimação).
Mas Jabor não cita, por exemplo, que o presidente foi surpreendido de madrugada em sua casa, por militares armados; sequestrado e mandado para fora do país. Claro, não é preciso comentar que esse é um ato totalmente ilegal e arbitrário. Além do que, o caro comentarista, simplesmente ignora o fato de que a população não apoia o golpe. Mas afinal, qual a importância do povo numa democracia, não é mesmo Jabor?
Chega ao absurdo de dizer que esse seria, "um golpe democrático" (lembremos que os militares brasileiros que deram o golpe em 1964, se utilizaram do mesmo expediente). Partindo sempre para o campo das hipóteses, ou pra quem preferir, da "futurologia", insinua que Zelaya teria a pretenção de se perpetuar no poder, a exemplo do que infelizmente parece querer o Chavez. Aliás, para a análise rasteira de Jabor, apenas o fato de Chavez (que vamos combinar, adora um holofote) apoiar a volta de Zelaya ao poder já indicaria essa pretenção. Aí ele praticamente bate o martelo. Mas como Jabor não é bobo, deixa tudo no campo do possível. Como não há provas contra para apresentar, prefere levantar hipóteses, jogá-las ao ventilador. Mas em momento algum fala a respeito dos golpistas e dos que os apoiam. E afinal, qual seria a reação de Arnaldo Jabor, se o congresso da Colômbia apoiasse um golpe contra Uribe por sua tentativa de aprovar uma segunda reeleição?
O que ele não comenta, e parece querer ignorar, é que consulta popular não é ilegal nem estranho à democracia; mas o golpe sim. E vamos concordar que o apoio de parte do Congresso e da Suprema Corte é no mínimo nebuloso, é absurdo derrubar um governo, porque este pretende fazer uma consulta pública. Isso sim é antidemocrático. E mais, o objetivo da consulta (que se daria concomitantemente à votação para presidente) tinha por objetivo, saber se a população concordava ou não, com a convocação de uma Assembléia Constituinte, objetivando uma reforma constitucional, onde uma das modificações, seria a possibilidade de reeleição presidencial. Desnecessário dizer portanto, que Zelaya não se beneficiaria do direito a reeleição. Lembremos, no entanto, que Fernando Henrique Cardoso, sem consultar os brasileiros, modificou nossa constituição com todo o apoio da forte base governista (a qual ele teve por todo o seu mandato), afim de incluir a reeleição presidencial, até então inexistente na nossa carta. Tudo isso feito sem maiores estardalhaços. Hipocrisia pouca, é bobagem.
Enfim, pra finalizar, a exemplo de Jabor, poderíamos fazer algumas perguntas bastante pertinentes, como por exemplo:
  • Quem são e que interesses norteiam os golpistas e seus simpatizantes?
  • Um golpe pode ser considerado democrático, mesmo sem o apoio popular?
  • Um golpe pode ser considerado mais legítimo do que uma consulta popular?
  • Por que os golpistas atentam contra as liberdades democráticas, como o direito a manifestação e a liberdade de imprensa, já que lá estão, para defender a própria?
  • Por que o Brasil que nunca apoiou o golpe, reconhecendo apenas Zelaya como o legítimo presidente de Honduras, não deveria dar asilo ao presidente deposto, assumindo uma posição covarde de lavar-as-mãos e fugir da questão?
Na verdade, Arnaldo Jabor fica o tempo todo em cima do muro (se é que podemos falar nisso), diz não apoiar o golpe, mas ao mesmo tempo tenta justificá-lo, numa espécie de apoio tácito. Só prova com isso, o quanto é desonesto, debochado e cara-de-pau. Acha que sabe de tudo, porém fala tão bem de política quanto de filmes na festa do Oscar.

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