sábado, 20 de outubro de 2007

Ruanda: o genocídio que o mundo esqueceu

Faz 13 anos, houve em Ruanda, um massacre de proporções dantescas envolvendo as duas principais etnias daquele país africano, os Hútus e os Tútsis. Ruanda foi uma colônia da Bélgica e durante todo esse período, eram os tútsis que exerciam o poder no país. Os Tútsis nesse período, formavam a elite política em Ruanda (o que não significa que todo tútsi fosse parte da elite), em contraposição a grande maioria da população que era da etnia Hútu.

Em 1959, ocorreu uma revolução popular que resultou, por fim, na independência de Ruanda em 1962. Essa revolta foi desencadeada por camponeses hútus que derrubaram a aristocracia tútsi. Camponeses, funcionários e professores que faziam parte da comunidade tútsi foram marginalizados pelos líderes da insurreição. Em 1973 com um golpe militar, os hútus se firmaram no poder. E a partir de então, a população tútsi começou a sofrer com confiscos de bens, deslocamentos populacionais e até medidas de cunho racistas como a proibição de casamentos mistos entre ambas as etnias.

Como todo o governo de exceção, a ditadura em Ruanda se utilizava da imprensa para despejar todo o tipo de ódio contra os tútsis. “Em 1991, nos jornais militares o tútsi era apontado como o inimigo natural do hútu que precisava ser eliminado definitivamente. Estava escrito em letras garrafais na primeira página. Com o tempo, o alvo foi sendo pouco a pouco difundido nas estações de rádio”, disse um dos hútus que participaram da matança. As rádios tiveram uma importância fundamental na difusão dessa onda de ódio contra a minoria tútsi, sobretudo a Rádio Mil Colinas (a principal rádio daquele país); onde os tútsis eram chamados de "baratas", e sua destruição era pregada abertamente sem constrangimentos. Óbviamente o circo estava armado, e era apenas uma questão de tempo para que essa grande bomba relógio explodisse num grande banho de sangue. O estopim para a grande matança se deu em 6 de abril de 1994, quando o presidente hútu de Ruanda, Habyarimana, foi morto com a explosão do seu avião. A culpa pelo atentado recaiu sobre os tútsis. O massacre começou nessa mesma noite, na capital Kigali. A matança desenfreada vitimava qualquer um que fizesse parte da comunidade tútsi (homens, mulheres, crianças ou idosos) ou mesmo os hútus "moderados". Calcula-se que em 12 semanas, mais de 800.000 pessoas, entre tútsis e hútus moderados, foram brutalmente assassinadas.

É importante ressaltar, que a ONU estava nessa ocasião em Ruanda e mesmo sabendo do massacre que se aproximava, suas tropas pouco fizeram e mantiveram uma postura omissa em relação à possibilidade de salvamento das vítimas. Esses boinas-azuis eram de países como Bélgica e França e as únicas pessoas que eles evacuaram, foram os estrangeiros brancos. Deixando quem de fato precisava de sua ajuda, em total desamparo. Antes mesmo da matança começar quase todo o contingente da ONU havia deixado o país, alegando questões de segurança (após a morte de uma dezena de capacetes-azuis belgas). Podemos dizer, grosso modo, que nesse momento o mundo "civilizado" simplesmente ligou o foda-se para o que eles sabiam que ia acontecer naquele país. Afinal, quem se importa com um bando de negros, pobres e africanos? É mais sensato varrer essa sujeira pra debaixo do tapete. Sujeira essa, que o Ocidente ajudou a criar; nesse caso, sobretudo Bélgica e França (ao final disponibilizei um link para um artigo sobre a relação da França com o genocídio).

Enfim, os relatos a respeito do massacre são impactantes e de embrulhar o estômago. Como pessoas foram capazes de massacrar durante dias seus iguais sem o mínimo sentimento de remorso. Talvez o ódio profundo patrocinado pelos veículos de comunicação e pelo governo ajude a explicar tamanha violência, ou melhor, tamanha disposição para cometer crimes tão hediondos. Isso óbviamente, é um processo longo que não leva um ou dois dias, mas sim décadas, até se transformar finalmente, em uma espécie de ódio racial. Um tipo de ódio em que o sujeito não enxerga o outro como um ser humano, mas sim como um animal, ou até menos que isso, como uma coisa insignificante, um inseto, uma barata que ninguém sente qualquer culpa ao esmagar.
Infelizmente a História nos apresenta muitos exemplos parecidos com esse, em tempos e lugares diferentes. Não há como não lembrar da torpe campanha da infâmia nazista contra os judeus, do massacre dos armênios pelos turcos, os índios massacrados de norte ao sul do continente americano, ou mais distante ainda, o massacre da Noite de São Bartolomeu em Paris no longíncuo ano de 1572. Em todos esses casos temos uma amostra do que a intolerância e o ódio são capazes de fazer.
A questão é, quantos genocídios ainda irão acontecer, e quantos mais o mundo continuará a ignorar?

PS.: Para um maior entendimento e aprofundamento do assunto, aconselho que acessem os links abaixo, sobretudo o que se refere à insidiosa política belga e francesa para Ruanda.

Veja também:

Abraços!!

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