O polêmico presidente Fidel Castro anunciou hoje (terça-feira) que não voltará a governar o país. Há quase meia década comandando Cuba com mãos-de-ferro, Catro, com a saúde já bastante debilitada, deixa um legado de importantes mudanças sociais, mas também de opressão e cerceamento das liberdades individuais.
É uma das figuras mais controversas da política mundial da segunda metade do século XX. Liderou (junto com Che Guevara) uma revolução na ilha derrubando o governo do autoritário Fulgêncio Batista, promovendo a seguir, reformas sociais significativas, sobretudo nas áreas de educação e saúde. Segundo o PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), Cuba atingiu indicadores sociais dignos de países europeus (veja aqui).
Mas não podemos esquecer também, os muitos exemplos de desrespeito aos Direitos Humanos, como os tribunais populares, logo após a revolução, que julgaram (com uma rapidez impressionante) e condenaram ao fuzilamento, milhares de opositores. As prisões por questões políticas, torturas e a proibição de livros (ou qualquer coisa que não esteja conforme os preceitos da revolução de Fidel), estão entre outras tantas lamentáveis facetas do regime. Enfim, a falta de liberdade é um preço alto demais que o povo cubano paga, e isso não me agrada nem um pouco; de fato, os direitos individuais não devem ser usados como uma moeda de troca (se perde aqui, mas se ganha ali). Se de um lado tal atitude contribuiu para fortalecer Fidel, por outro, acredito que isso promove um desgaste gradual da Revolução e de seu (suposto) ideal de liberdade. Uma faca de dois gumes.
Seria, porém, desonesto da minha parte criticar Fidel sem criticar seu arqui-inimigo, o governo do Estados Unidos. Ora, desde a Revolução, os EUA nutrem um ódio colossal por Fidel e seu regime. Há motivos, além do fato óbvio de Cuba se situar a algumas centenas de quilômetros ao sul da Flórida (e uma república comunista nas barbas do Império é inaceitável). Empresas americanas mantinhas negócios na ilha, muitos deles bastante escusos diga-se por sinal, incluíndo aí a presença forte da máfia.
A Cuba de Fulgêncio Batista era muito mais um quintal dos EUA do que um país de fato; uma República das Bananas que viva em função dos dólares americanos. Fulgêncio era tão impopular, que quando do começo dos embates com os rebeldes de Fidel, muitos dos soldados do exército, abandonaram as fileiras se recusando a lutar contra os revolucionários. Não há dúvidas, apesar de todas as mazelas, o cubano hoje é um povo orgulhoso de si (e esse orgulho não têm a ver com o patriotismo racista e preconceituoso que vemos na Europa e nos Estados Unidos).
Os EUA optaram por lançar mão do terrorismo, com o intuito de assassinar Fidel e desestabilizar a ilha, incluindo aí, até ataques de aviões americanos, contra fazendas, plantações e cidadãos cubanos. Sem esquecer, claro, o embargo que perdura até os dias atuais (e que de certa forma, serve muito bem aos propósitos de Fidel). Tudo isso culminou na patética invasão à Baia dos Porcos, por cubanos anti-castristas da Flórida, comandados pela CIA.
A coisa só começou a mudar e as sussessivas tentativas de derrubar fidel do poder foram se arrefecendo (embora não tenham de fato acabado), depois da crise dos mísseis, que colocou o mundo à beira de uma guerra atômica.
Por fim, falar de Fidel apenas destacando o seu lado negativo, é no mínimo, tendencioso. Ele é sim digno de críticas, e não poucas, mas daí a negar ou ignorar os importantes progressos promovidos pelo regime na ilha (dignos de inveja à qualquer país latino-americano), mesmo em vista de um embargo sufocante, é querer ser desonesto (vide a revista Veja).
Abraços!!