quinta-feira, 6 de março de 2008

A América do Sul prende a respiração

Não apoio as fanfarronices do Chaves; e inclusive, acho ridícula essa história de revolução bolivariana. Os seus recentes ataques verbais contra a Colômbia e o envio de tropas para a fronteira com este país, foram de fato desnecessários, e apenas contribuíram para colocar mais lenha nessa fogueira. Além é claro, de ser um prato cheio para a direita reacionária se acabar em críticas, fazendo, com que o Uribe se transforme em uma espécie de vítima da situação. Enfim, desaprovo qualquer discurso de cunho belicista.
Por outro lado, é inadmissível uma situação em que um país invade o outro e ataca guerrilheiros com bombardeio de aviões e tropas a desembarcar de helicópteros e capturar corpos. Isso claro, sem o consentimento, ou mesmo, conhecimento por parte dos equatorianos. Sinceramente não acho que tal atitude se justifique.
Em 14 de Fevereiro, a agência EFE, já noticiava as invasões do território do Equador por forças colombianas e a irritação de Correa com esse tipo de atitude agressiva (clique aqui).

A Colômbia, como é de conhecimento de todos, recebe pesado apoio militar americano (nos mesmos moldes de Israel). Aliás, com essa ação, a Colômbia demonstrou uma similaridade espantosa com a política de choque adotada (e tão criticada) tanto por EUA quanto por Israel. Não seria absurdo dizer, que a política colombiana (através do Plano Colômbia) é do embate armado, e claro, a aniquilação do inimigo; não cabendo portanto, a diplomacia. As famílias dos sequestrados, sabem muito bem disso, e Uribe nunca escondeu que sua política para com as Farc é puramente militar, de choque.

Outra questão interessante, é que se procura discriminar as Farc alegando que as mesmas são terroristas e mantêm relações com o narcotráfico. Ou seja, com esse tipo de gente não há diálogo, ou melhor, o único diálogo viável é o das armas. Porém, os que defendem essa premissa, talvez esqueçam dos paramilitares (grupos de extrema-direita), que em termos de violência, não devem nada às Farc; além, claro, da relação que esses grupos mantém com o narcotráfico (a exemplo das Farc). A diferença crucial, é q os para-militares, têm uma relação histórica e bastante escusa com a direita colombiana, e de fato a história mostra até uma certa tolerância (para não dizer, cumplicidade) dos militares colombianos com os paramilitares. O próprio Uribe, não é segredo pra ninguém, tem relações com estes.
Não é de se espantar portanto, que com esses, o governo colombiano tenha buscado o caminho da negociação, a via diplomática. Concedeu a anistia (embora muitos tenham permanecido em armas, e sabe-se lá que destino tiveram aqueles que depuseram as armas), perdoando assim, os crimes destes; mas nunca esboçou fazer nada semelhante em relação aos guerrilheiros das Farc.

Não estou aqui a defender as Farc, abomino o tipo de violência da qual eles se utilizam, e acho que a via das armas, sobretudo no exemplo colombiano, não vai levar a nada. Mas achar que as Farc e o bravateador do Chaves são os grandes vilões dessa história, e que o Uribe é apenas uma vítima; é a mesma coisa que acreditar naquele papo furado, de que vivemos numa eterna luta entre o Bem e o Mal (só mesmo o Bush e seus lacaios para acreditarem nisso). Como já dizia Shakespeare: Há mais coisas entre o céu e a terra, do que sonha nossa vã filosofia.

O Uribe é quem criou essa crise, e ele sabia muito bem das consequências diplomáticas dessa ação tresloucada. Tal ação, periga, caso seja vista como um direito de defesa da Colômbia (como querem os americanos), abrir o precedente aqui na América Latina, da violenta e ineficaz guerra ao terror, sob a chancela dos EUA.

Espero, no entanto, que o acordo firmado na reunião da OEA ontem, tenha mostrado que não aceitaremos em nosso continente a prerrogativa da guerra ao terror, a qual os EUA tentam espalhar pelo mundo.

Abraços!

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