quinta-feira, 8 de outubro de 2009

A Quinta-coluna*

Que a mídia brasileira é reacionária quase em sua totalidade, não é novidade pra ninguém. Que se auto proclama como uma espécie de arauto da moralidade e da ética brasileira, dizendo-se imparcial quando na verdade a imparcialidade é uma ilusão, se proclamando como inquestionável e destilando pedantismo e arrogância; é chover no molhado, dizer o mais do mesmo. Mas a posição da mídia, sempre escamoteada pela falsa aura de protetora das liberdades e de uma suposta democracia, as vezes deixa transparecer sua verdadeira face. Dizendo enfim ao que veio. A democracia para estes, é uma linha muito tênue entre os interesses que defendem e o que realmente é do interesse público. Melhor, eles misturam os dois e passam a considerar aquilo que defendem como de interesse geral. Um ardil eficientíssimo. Ou seja, devem seguir aquela premissa de que, democracia é quando eu mando.
Nada disso é novidade. Mas um episódio recente, nos mostrou com bastante clareza que a mídia nativa na verdade não está tão preocupada assim com a democracia no mundo. Isso claro, desde que no poder esteja alguém que compartilhe sua visão de mundo. As alternativas, são sempre mal vistas e devem ser devidamente defenestradas. Não é de se espantar assim, que a crise em Honduras tenha se transformado na mais nova trincheira da mídia nacional contra o governo Lula, que ela tanto odeia. No caso de Honduras, tentou-se a todo custo, desacreditar a posição do Itamaraty e do governo brasileiro com relação ao abrigo dado ao presidente deposto, Manuel Zelaya, pela embaixada brasileira naquele país. A fúria da imprensa nacional inclusive, se mostrou em desacordo com a posição de todos os países e órgãos internacionais, que não reconheceram o governo golpista de Micheletti e deram apoio a iniciativa brasileira.

Nesse ponto é interessante constatar, que a imprensa nacional passou a dar chancela a um governo golpista e impopular, criticando a posição brasileira de abrigar em sua embaixada, o presidente legítimo, que havia sido deposto de forma covarde e totalmente ilegal. Como uma espécie de estratagema, se falou inclusive em "golpe brando" ou mesmo "democrático"; dada a impossibilidade de descartar o incomodo e constrangedor fato de que realmente houve um golpe (e isso não podia, por mais que desejassem, ser ignorado). Isso porém é um absurdo. Não existe golpe democrático ou brando, isso é puro malabarismo criado para atenuar uma posição insustentável de um setor da sociedade que se considera guardião da democracia, e portanto, falar em golpe puro e simples, pegaria muito mal para a imagem que tentam passar. O perigo é que certas palavras na boca de certos indivíduos (tidos como badalados intelectuais midiáticos), se tornam sem qualquer questionamento, verdades inabaláveis.
Mas sim, Honduras é governada por uma ditadura, quer queiram quer não, com direito inclusive à Ato Institucional, que cerceia as liberdades e confere super poderes às autoridades policiais e governamentais. Entre repressões à manifestações, prisões e fechamento de emissoras de oposição ao golpe; há quem ainda tenha a cara de pau de considerar isso um golpe democrático. Mas enfim, se essa é a opinião de Arnaldo Jabor, um analista de credibilidade, que não se baseia apenas em hipóteses e suposições, com sua opinião sempre isenta; então quem sou eu pra discordar.
Ficamos agora à espera do próximo ato. Pois a culpa é sempre do Lula mesmo.

*O termo Quinta-coluna é creditado à um general franquista, que durante a Guerra Civil Espanhola, teria se utilizado deste quando da investida contra Madrid (em poder das forças republicanas). O cerco à capital espanhola contava então, com quatro colunas nacionalistas. Todavia, para o general, havia em Madrid uma espécie de quinta-coluna, formada por simpatizantes dos nacionalistas. O termo, no entanto, sobreviveu à guerra civil, e acabou se consagrando como uma forma de indicar a presença de elementos desestabilizadores dentro de uma sociedade.

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