A campanha presidencial de 2010 promete. Nunca estive tão ansioso para que começasse, será certamente a mais divertida dos últimos tempos. Digo o óbvio; mas já tivemos uma pequena amostra de como o nível será baixo. As últimas semanas foram movimentadas, eu sinceramente me diverti muito, seja lendo o artigo do Fernando Henrique ou as linhas toscas de Caetano Veloso. O Caetano, pra quem já o conhece, virou uma espécie de polemista, atacando a tudo e a todos (ele e o Lobão se merecem). Claro que sempre com o objetivo primeiro de se auto promover, porque afinal, ser polêmico é o que dá ibope.
Mas certamente, nem o próprio Caetano leva a sério as besteiras que fala. Ele deveria fazer como o Chico Buarque, e não ficar se metendo em assuntos que não conhece. Sejamos honestos, chamar o presidente de inculto, analfabeto, caipira, simplório... virou lugar comum. As pessoas proferem coisas como essas quase que automaticamente, e não param pra pensar que ao contrário de ser verdade, isso denota muito mais, um ranço preconceituoso. Ninguém minimamente sério, considera mais esse tipo de ataque. Bem sabemos que inteligencia não está necessariamente ligada ao grau de escolaridade. Exemplos disso não nos faltam. Aliás, denecessário dizer que o Lula não é analfabeto, e se mostrou inclusive, muito mais capaz do que seu antecessor na condução de um governo. Internacionalmente, por exemplo, o Lula é muito mais respeitado e admirado, do que o foi Fernando Henrique, em seus oito anos de mandato. Fato. O que também não significa que ele tenha feito um governo perfeito nesses últimos anos. Cabe sim muitas críticas, mas em geral o que se vê são ataques pessoais sempre resvalando no preconceito puro e simples. O único prejudicado, como se vê, certamente não é o Lula, mas sim, a própria oposição, que só prova com isso, a ausência de um projeto de sucessão sério e consistente que leve todo um país em consideração e não mais setores privilegiados da sociedade.
O Brasil não é mais o que deseja São Paulo. As pessoas querem ser representadas, e vêem isso, na figura de Lula. Seja por sua origem, seja também pelo o que seu governo deixará como legado. Ou seja, uma quebra de paradigma, num cenário onde essas pessoas nunca se sentiram realmente inseridas. Esse Brasil incômodo e simplório quer ter voz também, e embora isso ainda esteja longe do que poderíamos considerar ideal, não há como ignorar que as coisas estão mudando.
Caetano ao falar de forma agressiva do suposto analfabetismo de Lula, tinha apenas por objetivo, vender seu mais novo trabalho. Fernando Henrique, em seu artigo, prova que além de sofrer de memória seletiva, também age de má-fé, ao justificar a popularidade do presidente como sendo um sinal de "autoritarismo popular". A oposição, sem muitos meios pelos quais opor-se a Lula, se utiliza largamente desse expediente baixo, ou seja, acusar o presidente de ser um pretenso tirano. Para essa gente rançosa e preconceituosa, o povo quando não vota nos candidatos que representam seus interesses elitistas; ou vota mal, ou é manipulado, como uma massa de manobra. Pois bem, para essas pessoas, cabe bem aquela frase de Millor Fernandes que diz: "Democracia é quando eu mando em você, ditadura é quando você manda em mim."
*Trexo de Sampa, de Caetano Veloso; e o quadro Narciso, de Caravaggio. Compostos, ambos são uma perfeita definição de Fernando Henrique Cardoso.